sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Grupo Folclorico Os Camponeses de Vila Nova




Fundado em 15 de Agosto de 1982, o Grupo Folclórico "Os Camponeses" de Vila Nova, visava trazer para os nossos dias o passado de uma Freguesia a quem D. Manuel 1 deu foral em 1514. percorrendo as pobres aldeias da Freguesia de
Cemache, arrancando das velhas arcas e das cansadas gargantas o que restava, baseados no princípio de que "Cada velho e analfabeto é que morre, é um livro queimado" pensámos, que não devíamos deixar partir mais nenhum "velho livro", sem ter sido lido por nós.
De pesquisa em pesquisa tentámos juntar algo, que afirmasse a nossa identidade cultural.
Vila Nova é uma pequena aldeia, que dista 8km
da cidade de Coimbra, e das suas sete nascentes de água pura e cristalina, nasce a força que faz mover os seus seculares moinhos. Limita os concelhos de Coimbra e Condeixa-a-Nova e dista cerca de 3km das Ruínas Românicas de Conímbriga.

Origem da Feira das Cebolas



Visando repor uma tradição cujos conhecimentos remontam ao Séc. XIV, iniciámos em 1986 a Feira das Cebolas, que havia desaparecido na década de 40, ao tempo integrada na extinta Feira de S. Bartolomeu.

A razão principal desta reposição foi trazer aos nossos dias toda a sua vivência que os pequenos agricultores de Cernache passaram para conseguir vender as cebolas que com tanto esforço e carinho cultivavam.

Chegado o quarto-minguante de Janeiro iniciava-se a sementeira dos canteiros de cebolo sempre em locais abrigados dos ventos frios de Fevereiro e Março e que durante o seu crescimento eram seguidos como de um canteiro de cravos se tratasse, até que chegado o quarto minguante de Abril e já com a terra para a plantação preparada, se procedia á sua plantação. Regado e mondado das ervas daninhas, chegava-se ao quarto minguante de agosto já com os rabos das cebolas a secar, procedia-se á sua colheita e levavam-se para os velhos telheiros das eiras afim de acelerar a secagem. Passados alguns dias havia que contratar o enrestiador nome dado ao homem que fazia os cabos ou réstias.

De salientar a importância dada pelos agricultores ao quarto minguante em todas as fases decisivas do cultivo, ciclo lunar decisivo para a manutenção da cebola durante a maior parte do ano sem grelar.

Na segunda quinzena de Agosto, à saída da missa dominical e no largo da Praça de Cernache, lá estavam os vendedores de bunho vindos de Arzila do Campo, que no Paul de Arzila colhiam tão precioso ervácio que, para além do enrestiar, servia de base as tradicionais esteiras de Arzila.

Chegada a véspera do enrestiar havia que pôr o bunho ou palha a remolhar na água da ribeira de vila nova mesmo junto ao moinho do ti videira para que humedecido pudesse ser trabalhado sem ferir os dedos ao artesão que, a dar-lhe apoio, tinha sempre uma companheira com a missão de escolher as 25 cebolas do mesmo calibre e colocá-las aos molhinhos, facilitando-lhe a tarefa.

No velho sótão as cebolas já enrestiadas, esperavam o dia em que o velho Ti Lourenço, estimado lavrador da terra, as carregava até à Feira então já instalada na Ínsua na margem esquerda do Mondego onde hoje se situa o Estádio Universitário.

Era o dia 19 de Agosto, véspera do inicio da feira e durante a noite procedia-se ao carregamento dos cabos das cebolas feito pelo ti Zé da Abrunheira enquanto a esposa, a Ti Rita Moleira, preparava o fogareiro e as brasas aproveitadas da velha lareira e algumas pinhas bravas que ajudavam a acender a fogueira que teria por missão ajudar na confecção dos alimentos que serviriam de refeição ao casal e filho, durante os quinze dias e noites que durava a Feira.

Na madrugada do dia 20 de Agosto a velha Rita servindo-se do azeite da velha candeia colocada na boca do forno da broa, tirava o cobranto à vaca do Ti Lourenço para que tudo corresse bem, e iniciava-se então a penosa viagem. Subida a Venda do Cego, parava-se na Fonte do Brejo, a fim do animal matar a sede provocada pelo meio alqueire de favas que lhe tinham servido ao pequeno almoço, gesto que era repetido quando se alcançava a fonte da Chapeleira em Antanhol como preparação para enfrentar o osso mais difícil da caminhada que era subir a ladeira da Paula, em cujo inicio o Ti Lourenço aproveitava para visitar a taberna do Ti Alberto da Paula, já a contar com os clientes daquele dia especifico, para beber um copo de três de preferência branco.

Chegados à Cruz dos Morouços a paragem junto à capelinha da Senhora dos Aflitos onde a Ti Rita ajoelhava pedindo a ajuda da santinha para que a venda das cebolas corresse dentro das suas ambições e prometendo no regresso compensá-la com uma generosa esmola, o mesmo ritual se repetia alguns metros depois quando da passagem em frente à alminhas do velho Pereira que em permanente vigilância naquele dia, vinha a correr logo que escutava o tilintar da pequena moeda de meio tostão na pedra que servia de base ao cofre das alminhas.

Seguia-se a descida íngreme do vale do inferno onde a Tia Rita teria de fazer as suas necessidades na Quelha do Burro e a passagem em frente ao Portugal dos Pequenitos servia para o animal matar a sede na velha fonte ali existente provida de uma tina em pedra precisamente para servir o gado que durante o ano se dirigia à Feira dos 23, e principalmente às mulas que diariamente ali passavam puxando as carroças dos moleiros de Cernache que se dirigiam ao Baixo Mondego levando a farinha aos seus clientes.

Chegados à Feira era escolher o melhor lugar possível e começar a armar a velha tenda com armação de cana, tendo por cobertura os negros panões que serviam também na apanha da azeitona e como enxerga uma ou duas esteiras de Arzila. E este estado de coisas davam início aos quinze dias que eram considerados de férias para quem não tinha mais nenhuma regalia durante todo o ano. No fim da feira e com o dinheirito amealhado e retirado o que serviria de pé de meia para todo o ano com o restante era correr até à Rua dos Sapateiros escolher uns sapatitos e passar pela Rua das Figueirinhas apressar uma camisinha de dormir ou pano para um saiote que em uso já apresenta alguns esfarrapões, seguindo-se o regresso a casa.

São estes recados dos nossos antepassados que levaram o Grupo Folclórico "Os Camponeses" de Vila Nova a levar todos os anos à Praça do Comércio, em Coimbra, um pouco do que ali se passou desde o Séc.XIV , com oito noites de cultura popular baseadas em actuação de Grupos Folclóricos, Jogos Tradicionais, Brinquedos de Madeira, Quermesse, tendo a indispensável presença duma Tasquinha representando uma antiga taberna da nossa freguesia, mostrando a riqueza da gastronomia regional onde predominam o caldo verde, a sardinha de pasta, o chouriço caseiro assado juntamente com a doçaria ,onde para além do Bolo de Festa e a Escarpeada, o Arroz Doce é o rei da noite, sempre acompanhado do delicioso Licor de Canela.

Todos os dias os ceboleiros de Cernache vão vendendo alguns milhares de cabos de cebolas, para além de outros produtos hortícolas, tais como tomates, pepinos ,abóboras e figos.

Novena à Sr.ª do Livramento



Na Capela da aldeia de Telhadela da freguesia de Cernache existe uma imagem de N.Srª do Livramento, do Séc. XVI, a quem os católicos (e não só) devotavam grande crença.

Quando chegava a altura dos mancebos irem “às sortes” (nome que se dava ao dia em que iam à inspecção militar) as mães iam junto da imagem e rogavam: "Senhora livra o meu filho da tropa que eu venho cá com uma novena!"

A Novena constava em no dia escolhida a pagadora da promessa ia ao moinho do Ti Bideira com o taleigo de trigo e trazia-o com farinha moída à pedra "alveira" que colocava na velha gamela de madeira. Juntava-lhe açúcar, cominhos e alguns frutos secos e amassava, tendo o cuidado de, no cimo da massa, com a mão, fazer uma pequena cruz que significava um melhor "alevedar", cobrindo-a depois com um cobertor da cama.

Enquanto tratava da lida casa ia deitando os olhos ao empolamento da massa, ao mesmo tempo que, no forno, as cavacos ardendo iam dando uma cor rosada ao interior do mesmo, sinal de que estava na altura de enfornar as broinhas tendidas no velho "tejalão".

No dia seguinte, à tarde, juntavam-se à sua porta os amigos convidados, seguia à frente a pagadora da promessa levando à cabeça a velha mas desenxovalhada canasta com as deliciosas broinhas. Na cauda do cortejo seguia um tocador de harmónio ou de concertina, acompanhado das vozes dos acompanhantes cantando cantigas como “À Porta do Lúcio” ou a “Padeirinha”, rumo à Telhadela.

Junto à Capela da Féteira o povo aguardava a passagem do cortejo e quando, ao longe, o avistava já na secular Ponte de Marvão, repenicava a sineta da Capela convidando os féteirenses a juntarem-se à festa.

Deitar das Pulhas



Tradição secular incluída nas tradições carnavalescas da freguesia de Cernache, foi trazida para o nosso tempo pelo grupo Os Camponeses de Vila Nova logo após a sua fundação e retrata fielmente como era aproveitada uma das poucas possibilidades de se fazer critica à vida da localidade, quer se tratasse de namoricos, roubos ou infidelidade.

É este estado de alma que leva os homens do Grupo, na noite de segunda-feira gorda, a subir a íngreme encosta do Monte Fazeirinho pela calada da noite, e munidos de grandes funis, outrora peças importantes das grandes adegas locais, lançam aos ventos “notícias” de tudo o que vai acontecendo no burgo, não deixando porém de “atacar” alguns casos conhecidos da vizinha aldeia de Casconha, cuja provocação começa sempre com a mesma pulha: ”Eu deito uma pulha para cima duma cegonha, sete carradas de merda para os de Casconha”.

E assim se despoleta uma luta oral de ditos e mexericos e quando os palradores são reconhecidos é o reverso da medalha cumprindo-se o velho ditado popular, de que ”Quem tem telhados de vidro não pode andar à pedrada” e são eles que agora escutam os seus pecados denunciados pelos habitantes da aldeia situada no sopé do Monte que servindo-se igualmente de funis, lhe atiram com o que sabem deles.

Cântico ao Menino Jesus


Perde-se no tempo a tradição da feitura dum Presépio na Igreja Matriz de Cernache e em algumas Capelas da sua Freguesia, muito embora nestas só haja a da aldeia de Casconha que mantenha a tradição, visto que realiza desde há mais de um século a festa anual, na Quadra natalícia, costume que vai mantendo, mesmo contrariando a ordem eclesiástica.

Nessa Festa profano - religiosa durante as Missas do dia de Natal e Oitava de Natal, ( dia a seguir), o menino era retirado do nicho do presépio e era dado a beijar pelo pároco aos presentes na sua maioria pela única razão de “beijar o menino”, enquanto a seu lado o Sacristão de bandeja na mão, esmolava algumas moedas que revertiam a favor das despesas da Capela. Alguns incentivados pelos olhares pouco natalícios do Sacristão, até se excediam na dádiva.

Enquanto decorria a função a zeladora da Capela inicia mais um verso ao menino. « Entrai entrai pastorinhos - Por esses portais sagrados- Vinde adorar ao menino- Que está em palhinhas deitado.

A sequência dos versos terminava com uma quadra que versava um acto atribuído a algum “ateu” e que é a seguinte:

Óh meu menino Jesus

Quem te deu a camisola

Foi um rapaz do Loureiro

Chamado Zé Bissarola.

Segundo a lenda um dia o Menino do Presépio da Capela , apareceu embrulhado numa velha camisola cuja macabro acto era atribuído pelas devotas “Beatas” a determinado indivíduo conhecido na aldeia por Zé Bissarola. Mesmo não se tratando de um verso religioso foi recolhido e mantido pelo significado que nos dá da crença dum povo a que nos orgulhamos pertencer.

Tradição das Janeiras e Reis



Chegados às vésperas do dia de Reis e no fim dum dia de trabalho juntavam-se alguns homens de Vila Nova junto ao paial da Capela de S.João e aí combinavam quais as casas a visitar, cantando as Janeiras e os Reis.

De preferência eram as casas mais abastadas as contempladas, não só na mira de melhores donativos, mas também considerando que na maioria dos casos era a única maneira de conhecer como viviam e até como comiam os locatários.

Rua acima paravam á entrada do prédio, onde quase sempre uma cancela de madeira servia de delimitação aos curiosos, segurança reforçada pela presença de um rafeiro geralmente agressivo, começavam com quadras de saudação«Ainda agora aqui cheguei, pus o pé nesta escada, logo o meu coração disse, aqui mora gente honrada»

Por momentos se aguardava ouvir o ruído da gasta aldrava do velho portão, mas aguardados alguns momentos e por falta de resposta, seguia-se a quadra de provocação e de despedida:«Estas barbas de farelos, não nos querem escutar, têm o seu porco morto, nem o rabo querem dar» Seguia-se a visita seguinte e a mesma saudação esta por vezes mais bem sucedida, que para além de render alguns tostões servia para saborear os quentes belhós de abóbora acompanhados do doce licor de canela tudo preparado propositadamente para o efeito. Então lá se entoava uma quadra que expressava agradecimento « Viva lá senhora Maria ,Raminho de salsa crua – Na Janela do seu quarto - Nasce o Sol e Põe-se a Lua ».

Se a razão mais forte para serem as casas abastadas as preferidas na visita era a de comer bem, não há duvida que a curiosidade de aproveitar a oportunidade única de bisbilhotar como viviam os locatários, não era menos importante, para alem da vaidade que estes sentiam em ser presenteados pela visita. E no calcorrear das ruas se passava a noite, que termina já madrugada com tempo ainda para contar alguns tostões guardados religiosamente na taleiga, saco feito pela costureira da aldeia, que aproveitando os restos de pano , a confeccionava.

Por esta razão o Grupo F. Os Camponeses de Vila Nova organiza todos os anos no segundo Sábado de Janeiro o seu Encontro de Janeiras com a presença de dois Grupos convidados para alem do anfitrião cuja actuação se processa no Largo da Capela, em volta de uma generosa fogueira.

Contactos



Grupo Folclórico Camponeses de Vila Nova
Apartado 10
3040 - CERNACHE

COIMBRA - PORTUGAL



Silvano Martins em 239957598

João Fortunato em 916479571

http://gfcamponesesvilanova.blogspot.com/